A propósito de um comentário infeliz, vindo do nosso
primeiro ministro, à uns tempos que ando com vontade de responder ao mesmo, mas
o tempo e a vontade de escrever são escassos, contudo hoje sentei-me e decidi
retribuir.
Senhor primeiro Ministro
Segui o seu conselho arrumei as malas tratei de papeis e documentos,
pus o carro à venda (nota: o mesmo continua à venda) fiz uma pesquisa de
mercado, encontrei casa no estrangeiro, despedi-me daqueles que amo e vim tentar a minha sorte num
pais que não é o meu.
Achei admirável da sua parte mandar os portugueses emigrar devo
confessar que nesse dia senti uma espécie de empurram mental.
Sentada no sofá da sala do meu pai à beira de um desemprego
por falta de fundos Europeus pensei “quando o primeiro ministro de um país diz
na televisão que uma das alternativas à crise será emigrar devo confessar que
imediatamente me apercebi que o meu país não poderia nunca ultrapassar a crise.
Por isso mesmo segurei o tão estimado conselho e decidi viver num lugar onde
tudo me é desconhecido, onde não percebo a língua, onde não tenho afinidade com
ruas, paisagens, sons, comida e onde sinto acima de tudo falta daqueles que amo.
Provavelmente não lhe interessa mas irei partilhar consigo
que sinto falta de casa, dos amigos, dos meus pais, das cores de Portugal, das
roupas que as pessoas vestem, das ruas onde cresci, da simplicidade de comunicação, contudo o que me faz feliz não me paga as contas.
Tal como ouvi o seu conselho gostava que ouvisse o meu, arranje soluções eficazes para que nós
portugueses possamos realizar sonhos. Devo confessar que os anos que estudei
para obter uma licenciatura e posteriormente um mestrado na perspectiva de uma
vida melhor colocaram-me na posição de um mercado de trabalho completamente
estrangulado e atrofiado pela economia. Não deixo de me questionar se não
deveria ter poupado o meu pai financeiramente assim como a minha capacidade intelectual.
Senhor primeiro ministro somos uma geração de intelectuais
com sonhos adiados e forças desvanecidas, não, não irei incomoda-lho dizendo
que muitos de nós vive na expectativa de ter uma casa , um emprego, um carro, a
oportunidade de constituir uma família e uns trocos no bolso para uma fará ou
outra, porque para qualquer eventualidade mais vale rezar para que ela não
aconteça.
Já pensou na força de trabalho que esta a criar? Pessoas
desmotivadas que por muito que tentem manter o optimismo e consequentemente um
pouco de sanidade mental, acordam todos os dias num mundo que não lhes dá
oportunidade.
Por tudo isto gostaria de agradecer o seu conselho em mandar
os portugueses emigrar, tenho a dizer que sou uma emigrante portuguesa a viver
na Holanda que todos os dias vê as noticias na esperança de um dia encontrar um
Portugal capaz de realizar os meus sonhos.
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